domingo, 13 de novembro de 2016


[






continuo em pedaços, 
costurando todos os fragmentos que acho por aí. 
sem respostas, nem certezas.
apenas retalhos.





]

1a


Ter vontades, 
ser vontades
da cabeça 
aos pés. 

Ser movida por elas
e ainda assim
não saber por
onde andar. 

O movimento que flui 
e que pesa, por tê-las tantas.
Tudo ao mesmo tempo.

E o erro de ser apenas uma.



plastifica-se



Desejos de transformações utópicas,
que de nada valem.
Que eu guarde tudo que
há em minha cabeça para mim.

Vontades reais, vitais
não podem existir.
Plastificar o querer
para ser cabível aos
interesses do outro.

Envolver tudo que sou
em um grande
rolo de plástico.
Quanto mais artificial, melhor.

A vontade que pulsa dá medo.

Não se pode gritar, não se pode ser.
Se plastifique, se molde e
agradeça pelo plástico.
Agradeça também pela forma que te colocam e
que arranca cada pedaço seu.

Sorria, sangrando, para todos aqueles
que te matam todo maldito dia.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

.




"Todo ciclo precisa chegar ao final", é isso mesmo que nos dizem todo o tempo, mas quem está pronto? Sair da rota já demarcada durante um tempo é difícil, ninguém nunca sabe que rumo tomar. E agora, pra onde seguir? A bússola parece quebrada.

Empunhem seus binóculos, apontem para o horizonte mais longe, uma hora um novo norte surge e outro ciclo recomeça. Nunca parecemos preparados pra isso. Finais se aproximam e desde agora sinto o medo das horas marcadas para a partida, mas o medo não pode atrasar o girar da roda, o círculo precisa fechar.

Caminhando para finais próximos e (re)começos certeiros, tudo é movimento afinal. Como o Ouroboros somos nosso próprio fim e início, devorando a própria cauda para recomeçar, girando em torno do tempo. Somos nós mesmos as mudanças, a evolução, a criação e também destruição. Giramos o ciclo da vida e a cada final, nos revelamos infinitos.



terça-feira, 12 de julho de 2016

relato insone


Logo hoje a insônia insiste em ficar. Depois de um dia cheio, na véspera de um que tenho outras tantas coisas a resolver, a insônia insiste em ficar. Deitei cansada, mas minha cabeça continua a girar, listando tudo que tenho que fazer não só amanhã, mas durante a semana. Tentando contar o dinheiro pra o resto do mês. 

A menina que fui há 15 anos atrás me olha pela fotografia que tenho na estante. Os olhos cravados em mim como se sempre soubesse o que eu iria ser 15 anos depois: uma insone, ansiosa, cansada, sentada na cama ouvindo o não-barulho da madrugada com um caderno no colo escrevendo sobre nada.

Quando acho que estou só percebo que meu vizinho me faz companhia. Ao invés de escrever, ele prepara algo pra beber. Daqui ouço o liquidificador. Depois de um tempo, o barulho de copos e logo após uma cadeira sendo arrastada. E isso não quer dizer nada afinal.

Olho meu celular pra conferir as horas e são 3:44 da manhã, meu despertador está marcado para às 7:25. Já prevejo o arrependimento pela manhã por ter gasto essas horas de sono pensando, escrevendo. O pensamento recorrente da insônia é sempre o "deveria estar dormindo", cada célula do corpo grita pelo cerrar dos olhos e o apagar das luzes, mas o cérebro por vezes maldito, finge não entender isso. 

Angústia.

Insônia é batalha entre corpo e mente mas quem sofre com isso são os olhos, que sempre acabam abertos quando não lhes é conveniente.

pelo avesso



Eu derreto, reconstruo, congelo, levanto. 

Viver entre pedras, abrir o caminho não mão sem saber onde vai dar. Não ir pela trilha indicada, desviar da placa que mandaram seguir, quebrar o GPS: Inventar minhas próprias sinalizações e formas de chegar. Não dizer pra onde vou, seguir pela água nadando até não aguentar mais: sem fôlego e com cãibras.

Não levar ninguém, ir sozinha pelo caminho mais largo. Reunir todas as pessoas, ir e voltar pelo caminho mais estreito possível. Errar pela cidade, observar os passantes e esquecer quem eu sou. Construir memórias, escrever na minha pele até que minhas veias absorvam tudo que vivi. Sentar no lugar mais barulhento possível e escrever um texto sem sentido sentindo tudo ao redor. Desconexões necessárias. 

Não ter medo de derreter, reconstruir, congelar e sumir como miragem, se não, a rotina acaba com cada átomo do corpo e cada estrela do pensamento. Permitir que as galáxias na cabeça colidam, deixar que os meteoros caiam em chuvas torrenciais e que os buracos negros suguem toda luz já saturada. Deixar tudo sem sentido para recomeçar livre.

Fazer tudo ao contrário, andar na contramão, pois a repetição dos dias acabam com cada camada.

                                        Desconstruir o tempo, adquirir camadas.

sem título e com cor



Tudo com uma cor laranja queimava e aquecia como a vela ao lado. Jogo de sombras e respiração, sem a luz do poste dá pra enxergar melhor o que se esconde debaixo da lâmpada. Olhos que expressam tudo o que precisa ser dito, pupilas mais dilatadas a cada movimento. 
O cheiro vermelho, o abraço quente, o conforto tranquilo, sem pressa. Não há relógio aqui, o tempo só existe da porta pra fora; do lado de dentro todas as coisas giram no seu próprio ritmo.

Não há mais ninguém, nenhum barulho além da música escolhida ecoa neste lugar. Um limbo especial para salvação dos dias que correm: ficar aqui e reencontrar a paz. A tranquilidade da preguiça que domina tudo nesse momento é permitida. 

Não tinha luz, uma vela foi acesa deixando tudo laranja-avermelhado. Tudo coberto por sombras e ninguém pode nos ver. Reunimos estrelas, colidimos planetas, reinventamos o sistema solar. No fim explodimos uma galáxia e o universo inteiro pôde nos assistir.

sábado, 4 de junho de 2016

20 + 1


vinte e um anos

vinte e um contornos em volta do sol

vinte e um mil problemas

vinte e um milhões de angústias

vinte e um trilhões de desejos

o caos ganha mais um ano

tudo embaralhado vinte uma vezes mais

vejo tudo vinte e uma vezes melhor

e sou vinte e uma vezes mais sufocada por tudo que vejo

uma vontade louca de fazer todas as coisas, vinte e uma vezes mais

vinte e uma vezes mais mudanças, metamorfose vinte e uma vezes mais forte

vinte e um anos e vinte e uma vezes mais certezas que não sei de nada

talvez precise de mais vinte e um pra saber de algo

e mais vinte e um pra cair na calma de entender que ninguém sabe de coisa alguma

vinte e um: não é nada







quinta-feira, 2 de junho de 2016

solilóquio


acordando no mesmo horário seguindo o mesmo percurso eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso sentada na cadeira de frente pra o computador fazendo tudo igual nem a temperatura muda eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso saindo no mesmo horário comendo no mesmo tempo voltando no exato minuto de sempre eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso voltar dormir acordar novamente eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso 

os mesmos lugares as mesmas pessoas eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso casas iguais rotas iguais acontecimentos previsíveis eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso presa dentro de um relógio olhando tudo passar pela minha frente não dá pra pegar nada eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso tudo igual igual igual eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso

não tem mais no que pensar pensar pra que continue girando eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso pensamentos soltos corro mais rápido numa tentativa de fugir do ciclo infinito desse giro e só faz tudo passar mais rápido mas todas as coisas continuam iguais eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso 

não consigo parar de repetir nem de girar sistema repetitivo os mesmos fatos os mesmos medos eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso

eu sou um rato que corre numa roda infinita que nunca muda o seu percurso
eu sou um rato que corre numa roda infinita 
eu sou um rato que corre 
eu sou um rato 
eu sou 
eu

segunda-feira, 23 de maio de 2016

-


Pego a caixa, tiro um cigarro,
em seguida o isqueiro: fogo.
Meu desejo é queimar até virar cinza,
sumir como a fumaça.

O ato de tragar mata aos poucos
infectando tudo que há por dentro.
Mas não é assim que a gente morre?
Todo dia mais um pouquinho.

Fumar não acelera a morte,
intensifica o processo.
Acendo o cigarro  e ele queima,
queimo junto com ele
colocando pra dentro de mim 
toda aquela fumaça tóxica.

Cada vez que inspiro, destruo o que precisa
ser morto aqui dentro.
Quando expiro todos os monstros e gritos
saem pela minha boca, exorcizados
para desvanecer no ar.

O cigarro apaga,
dele só sobram as cinzas.
Enquanto dentro de mim,
sempre haverão monstros.

restless


Rotina dói repetidamente,
repetidamente a rotina dói
Fazer tudo de novo e de novo, cansaço por nada. 

A roda que não para de girar
o giro que não para de rodar.
Repetição da dor, incômodo: passar todo dia pela mesma árvore. 
Tudo tem o mesmo gosto e o mesmo peso.

A rotina não pode parar e tudo se repete num ciclo quase doentio,
que parece ferir continuamente.

Me debato enquanto vou sendo trancada
numa pequena caixa 
que
chamam
de
co ti di a no.

Adquiro marcas pelo corpo, 
minha cabeça cada vez mais perturbada.
Segunda-feira: sorrio e faço tudo de novo.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

vida sem tempo


Tempo é rolo compressor, sou esmagada cotidianamente pela sua força. Cada vez que meu despertador toca, cada vez que deixo de fazer algo para não me atrasar, cada vez que me atraso. Ele passa por cima de mim sem pena.

O tic-tac do relógio, a hora marcada de uma reunião, o tempo de trabalho, o prazo de entrega, os minutos que o macarrão tem que ficar na água. Tudo é tempo, hora, minuto, dia. Tudo marcado do relógio. Ter a vida contada em tempo me angustia. Tudo amarrado nos ponteiros, que serve de engrenagem pra o passar da vida.

Presa pra sempre dentro de um relógio. Existe vida fora do tempo?

segunda-chuva


A janela mais bonita está fechada, o café acabou. 

Sentada na mesa sozinha, rodeada de xícaras vazias que agora possuem donos fantasmas. O único som é o da geladeira e a janela a minha frente me incomoda. Ela não é a mais bonita e além disso, sempre está com uma tela verde, poluindo mais ainda a visão.

Essa tela me incomoda todos os dias que estou aqui.

O dia nublado reforça o sentimento de vazio, seja lá por que. Meu casaco está cheio de pelos de gato, minha mochila está pesada demais, eu só queria estar em casa. Estando em casa construiria um casulo e ficaria ali até quando eu quisesse, vendo a vida passar.

Não tem café, a janela mais bonita está fechada, queria estar em casa e não posso. Sem casulo, sem café, sem conforto.

                                      Segundas-feiras nubladas deveriam ser feriado.

Pontual




Entrar naquele restaurante definitivamente não foi uma boa ideia.


Ele acordou as 6 da manhã, para poder chegar ao trabalho as 8, se arrumou a tempo de conseguir pegar o trânsito numa boa hora, chegou no trabalho e até ai parecia tudo igual.

Arrumou seus papéis, ajeitou as fichas, respondeu e-mails, atendeu telefonemas e entre um café e outro as horas do dia foram se passando.

Pausa para almoço.

Volta para o trabalho. Mais papéis, carimbos, fichas, um pouco de pressa com relatórios, mais barulhos de telefone, a tarde corre junto com ele pelo corredor da fica. O relógio gira seus ponteiros, fazendo todos acharem que é mais um dia normal de sobrevivência urbana, talvez seja para todos ali, mas não para Ele.

O expediente vai se aproximando do final e Ele se lembra que acabou não fazendo supermercado e fica pensando em possíveis coisas que se tem em casa para jantar. Até onde consegue lembrar, nada que vá o satisfazer, então, decide ir para um restaurante antes de ir para casa. Assim tomada a decisão, começa a pensar nos restaurantes pelo caminho até sua casa.

Restaurante de massas italianas logo na esquina. Um português mais adiante. Um japonês próximo de um chinês, que ficam a três quadras dali. Ou talvez uma opção mais barata de um a kg quase na rua da sua casa. Várias opções, fazendo sua fome aumentar mais e mais. O trabalho já não interessa mais, tudo quase finalizado, Ele agora segue no modo automático, só esperando o relógio completar a última parte da sua volta.

Enquanto segue na espera e vai pensando nas possibilidades de restaurante, se lembra de uma churrascaria que tanto gosta e que nunca mais foi. Fica um pouco fora do seu circuito, ele teria que dar uma volta a mais para chegar em casa, isso o fez ponderar sobre seguir essa ideia ou não. Mas a vontade daquela carne estava falando mais alto e ele já estava quase decidido a desviar um pouco o caminho.

A hora do fim do expediente chegou, guardou as coisas na sua pasta, arrumou a papelada na mesa, deixou umas anotações em post its para coisas para fazer amanhã. Quando estava fechando sua sala, sua colega chegou e perguntou se ele estava seguindo para casa, pediu uma carona, Ele falou do seu plano de desviar um pouco o caminho para ir na churrascaria e a convidou ara jantar com ele. Ela recusou, disse que estava cansada e queria chegar logo em casa. No elevador para garagem, encontrou seu amigo com quem teve a conversa típica de fim de dia e quando estavam caminhando para seus carros, Ele o chamou para continuarem a conversa na churrascaria, seu amigo disse que até que estava com bastante vontade, mas, sua filha estava doente e precisava chegar em casa logo para ajudar sua esposa. Disse que ficaria devendo essa e que logo logo marcariam essa saída.

Ele apertou a mão do amigo, acenou em despedida e entrou no carro. Quando ligou o som riu com a sensação de quem ansiava por uma companhia. Ele estava com fome, mas também queria alguém para conversar, se sentiu meio sozinho no meio de tantos carros e pessoas. Seguiu para o restaurante, quando chegou perto, foi procurando um estacionamento, os lugares estavam meio cheios, ele fez um retorno e decidiu deixar seu carro uma rua antes.

Desceu, andou até o restaurante. Tudo ocorria normalmente, como todo o dia. Ele pediu sua comida, esperou, ela chegou, ele comeu. Tudo ocorria normalmente, como todo dia. Pediu a conta, pagou, se levantou e foi para casa.

Nunca chegou em casa.

Quando foi atravessar a rua, um carro em alta velocidade veio atravessando o sinal e o matou atropelado.

Poderia ter sido qualquer pessoa. Ele poderia ter ficado mais 10 segundos sentado na sua mesa do restaurante. Poderia ter estendido um pouco mais a conversa com o amigo no caminho da garagem, poderia ter dado a carona pra sua colega de trabalho ou ter guardado as coisas mais lentamente antes da saída. Poderia ter ido ao restaurante a quilo mais próximo da sua casa, ao chinês há três quadras do seu trabalho ou ao japonês perto do chinês. Antes disso ainda tinha um português e logo na esquina, massas italianas.

Os relatórios poderiam ser feitos com menos pressa, a tarde poderia ter corrido menos, poderia ter saído mais tarde e ter pego o trânsito só um pouco mais engarrafado, poderia ter derrubado os papéis e ter atrasado tudo 5 minutos, poderia ter passado mais tempo tomando um cafezinho enquanto conversava com um colega.

Mas não. Fez tudo exatamente na hora certa para a morte. Cada minuto contado bizarramente, cada passo dado em perfeita sincronia com o fim, cada respiração o levando para a última, quando cruzasse o mesmo caminho do carro que atravessava o sinal.

A hora exata pra morrer. Um segundo a mais em qualquer ação do seu dia poderia ter resolvido tudo ou qualquer outro restaurante. Qualquer um deles mataria sua fome e o deixariam vivo.

Entrar naquele restaurante definitivamente não foi uma boa ideia.


domingo, 15 de maio de 2016

meiodetarde


Sentada na varanda, na minha cadeira azul, o vento bate suave em mim e ajuda a virar as páginas do livro. A luz da tarde que está no limiar que tanto gosto: nem começo nem fim de tarde. É aquele horário tranquilo e amarelo suave, que tem uma luz dourada que faz tudo parecer uma fotografia de temperatura quente.

Nesse horário tudo parece repousar, calmo. Os sons ao meu redor ficam menos agressivos, minha gatinha desperta e se põe calma a observar a passagem do tempo. O barulho das folhas no seu lento roçar é reconfortante.

Tudo nesse horário parece meio vazio de ansiedade e cheio de vida. A paz vem nessa horinha preciosa depois da soneca pós-almoço e antes do pôr do sol. Uma pena nem sempre estar com a alma leve pra perceber isso. Abaixo o livro e fico a olhar os últimos momentos dessa cor bonita. Deixo o vento me abraçar ao mesmo tempo que danço com as roupas no varal.

Fico parada olhando, queria sentir isso pra sempre. Guardar esse meiodetarde numa caixa para que pudesse visitar sempre.

Peguei meu caderno, escrevi. Quando releio: paz.

não parar




Se eu parar eu CAIO, se eu parar eu EXPLODO, se eu parar eu PERCO, se eu parar eu CHORO, se eu parar eu MORRO, se eu parar eu MATO, se eu parar eu ENLOUQUEÇO, se eu parar eu ESTILHAÇO, se eu parar eu QUEBRO, se eu parar eu TRAVO, se eu parar DÓI, se eu parar ARDE, se eu parar APERTA, se eu parar eu ENTORTO, se eu parar eu AGONIZO, se eu parar eu SURTO, se eu parar eu ACABO.
                           NÃO PARAR. NUNCA ACABAR.

mundo



DEVORO O MUNDO COM OS OLHOS
    ELE SORRI DE VOLTA
E ME
CON
  SO
      ME.

espaço-tempo flutuante




[No silêncio de uma tarde só, acho que deveria escrever. Mas sobre o que?
Penso e sinto muitas coisas, mas não sei mais transformá-las em palavras, pelo menos por enquanto.
Agora só sei flutuar, flutuar.
Meu corpo flutuante nesse espaço físico, mas não tão flutuante quanto minha mente, que vagueia por um espaço-tempo que não existe. Vivo nessa dicotomia, procurando algum momento em que eu consiga unir o meu espaço físico e meu espaço mental.
E assim, flutuar em mim mesma.]

tempo



Queria poder segurar o tempo com as mãos. Agarrá-lo, ver finalmente essa face que me parece sempre tão turva.
O tempo se faz de abstrato mas é mais concreto que qualquer coisa que exista aqui, ele molda a gente.
Por mais que eu corra ele sempre está na minha frente, nunca posso alcançá-lo mesmo ele correndo sempre ao meu lado. Dentro de mim.
Temporalidade. Me dá medo essa palavra, faz lembrar que tudo me é finito, inclusive eu. O tempo é cruel e implacável, ele te engole todos os dias sem pena.
Enquanto ele passa, inexoravelmente, transpassando cada pedaço de mim, penso que de tão concreto, ele é abstrato. Nunca vou conseguir agarrá-lo, é ele quem me pega todos os dias.

150 km/h




Estou tentando entender o que está acontecendo comigo. Na realidade, sempre tento (poucas vezes consigo, é verdade). Mas ultimamente têm sido diferente, as coisas vêm vindo como um avalanche, nada faz questão de vir progressivamente, para que haja algum tempo para pensar ou talvez entender algo, mesmo que pouco.
Os dias correm e eu não consigo agarrar nada, são os fatos que me agarram e ao invés de me afagar me jogam em enormes furacões. Estou rodopiando em velocidades altíssimas, espero não destruir nada.
O tempo vai me atropelando, como um rolo compressor e a cada vez que passa vai deixando suas marcas. Não que esteja sendo ruim, coisas realmente boas vêm acontecendo comigo, algumas frutos de tudo aquilo que venho fazendo há algum tempo, outras, surpresas que foram atiradas nas minhas mãos seu eu nem saber como nem porquê.
Me sinto perto de alguma coisa ou então perto de nada. Esse girar infinito que parece não cessar nunca e que me deixa sem ver as coisas com muita clareza. Vejo pouco, é fato. As paisagens andam meio turvas, tudo parece um borrão. Mas, ao contrário dos meus olhos, todo meu corpo parece sentir tudo isso que não me é permitido enxergar.
Mesmo parada sinto a ventania do movimento ao meu redor, o som das coisas passando, entrando, se arrastando pelo chão da minha consciência. Nada que eu tenha sentido antes. Até a angústia é diferente, e ela me vem com uma grande misto de ansiedade.
Não sei o que está pra acontecer, a cada momento sou atingida com força por algo completamente diferente, mal tenho tempo para respirar fundo entre uma pancada e outra.
Dentro de mim um universo em expansão, fim de ciclos, começos de outros. Esses começos dão medo, caminhadas novas sempre causam frio na barriga.
Inspiro, conto até quanto for necessário, espero o medo passar e me agarro a qualquer fio de coragem que passe por mim. A ventania da mudança me empurra, não tenho escolha sobre se quero seguir ou não. Só me resta seguir, bem no olho de um furacão.

caos consome



O passar dos dias me consome, nunca sei o que quero. No meio desse tédio me reviro sempre em busca de algo mais. Mais de que? Não sei.
As vezes o que sinto não parece suficiente, porque o que eu quero é que minha cabeça exploda com uma chuva de ideias, invenções, teorias e quero que meu peito afunde com sentimentos que nem sei nomear. Mas aí eu respiro fundo e não me sobre nada. Só  vazio.
Eu sou um caos. Milhões de explosões por segundo, alta rotatividade, eu sou um caos. Afirmo mesmo sem saber direito o que isso quer dizer. Caos. Eu quero silêncio, mas quero grito, quero solidão mas também abraços. O que é isso? Paradoxalmente caótica.
Quero gritar, sair correndo, pular de um penhasco, nadar, mergulhar até não ter mais fôlego, quero me sentir grande, quero me sentir minúscula. Quero tudo, qualquer coisa, mas por favor, que não me reste o tédio desses dias iguais. Quero girar frenética com o mundo, a cada volta algo novo. Irreconhecível. Inexplicável.
Que minha cabeça exploda, que meu peito afunde. Respiro fundo, acendo um cigarro e ao meu redor, nada.

chaos inside




[Viajo para dentro de mim,
indo cada vez mais fundo ao meu interior.
Como é bonita a paz do meu caos.]

café-tempo

Tomo meu café
enquanto reflito sobre minhas dúvidas.
Gasto meu tempo
tentando entender o impossível.
Enquanto isso, a vida
passa pela frente das minhas lentes
e eu, sempre
sem entender
absolutamente nada.

?


O QUE EU SOU
     O QUE EU NÃO SOU
O QUE EU QUERO SER
    O QUE EU POSSO SER
O QUE ME LEVA A SER
    E A NÃO SER
SER ESTAR
         ESTAR SER
O FLUXO CONSTANTE
    DE SER E NÃO SER
O QUE É SER?
    EU SOU.