Logo hoje a insônia insiste em ficar. Depois de um dia cheio, na véspera de um que tenho outras tantas coisas a resolver, a insônia insiste em ficar. Deitei cansada, mas minha cabeça continua a girar, listando tudo que tenho que fazer não só amanhã, mas durante a semana. Tentando contar o dinheiro pra o resto do mês.
A menina que fui há 15 anos atrás me olha pela fotografia que tenho na estante. Os olhos cravados em mim como se sempre soubesse o que eu iria ser 15 anos depois: uma insone, ansiosa, cansada, sentada na cama ouvindo o não-barulho da madrugada com um caderno no colo escrevendo sobre nada.
Quando acho que estou só percebo que meu vizinho me faz companhia. Ao invés de escrever, ele prepara algo pra beber. Daqui ouço o liquidificador. Depois de um tempo, o barulho de copos e logo após uma cadeira sendo arrastada. E isso não quer dizer nada afinal.
Olho meu celular pra conferir as horas e são 3:44 da manhã, meu despertador está marcado para às 7:25. Já prevejo o arrependimento pela manhã por ter gasto essas horas de sono pensando, escrevendo. O pensamento recorrente da insônia é sempre o "deveria estar dormindo", cada célula do corpo grita pelo cerrar dos olhos e o apagar das luzes, mas o cérebro por vezes maldito, finge não entender isso.
Angústia.
Insônia é batalha entre corpo e mente mas quem sofre com isso são os olhos, que sempre acabam abertos quando não lhes é conveniente.