domingo, 27 de agosto de 2017

de passagem



Nunca mais eu vim aqui... é que nesses meses tantas coisas aconteceram e meu caderno acabou. Mesmo escrevendo em páginas soltas por aí, sinto como se faltasse um órgão. Um órgão que pesava, como se para firmar a minha existência e agora ando por aí com a mochila vazia demais e a caneta segue sem ter para onde ir. 

Nunca mais eu vim aqui... e eu já até me esqueci do que andei fazendo nesses meses. Semeei novas plantas, cuidei das antigas e estou tentando achar um novo vaso para meu bonsai, que precisa de um espaço maior para espalhar suas raízes. Meu gato morreu, não faz muito tempo e eu ainda não sei falar sobre isso. 

Nunca mais eu vim aqui...mas isso não significa que mesmo sem caderno, procurando um novo vaso para meu bonsai e sem saber o que falar sobre meu gato, que eu parei de escrever. Escrevi até um livro. Isso foi bom, mas creio que nunca terei a certeza se que ele é bom ou ruim.

Nunca mais eu vim aqui e resolvi voltar hoje, porque continuo mastigando ansiedades e bebendo alguns medos. Vim de passagem, só para registrar esses pensamentos vazios antes que eu desapareça.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

foto.fragmento - diário de bordo_ilha V


foto.fragmento - diário de bordo_ilha IV


foto.fragmento - diário de bordo_ilha III


foto.fragmento - diário de bordo_ilha II


foto.fragmento - diário de bordo_ilha I


foto.fragmento III - trapos



foto.fragmento II - dança



foto.fragmento I - ramalhetes


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

altomar_I

  Era um tarde ensolarada e a água que chegava nos meus pés através das ondas está agradavelmente quente. Andar um pouco, sentar na areia e olhar o mar, me perder contando as ondas... Não importa quantas vezes eu venha na praia, o ritual é o mesmo há anos. Ninguém nunca percebeu ou questionou a letargia que me envolve quando encaro o grande azul que se estende na minha frente. 

 O vento que bate e traz o cheiro salgado arrasta também milhares de lembranças. Não importa se as vivi ou não. A nostalgia arenosa que vagueia pelo azul gelatinoso que só o mar tem, é sempre maior e mais forte que eu. Mas eu gosto. Estar de frente ao mar me lembra de ser uma pessoa, da mesma forma que encarar o céu me vem como uma lembrança de pequenez. A água salgada me arrasta com seu fluxo enquanto relaxo meus membros, deitada com os olhos fechados para enfrentar a luz e me sussurra todos os segredos que preciso saber.

 O entardecer junto ao mar aperta meu peito de um jeito único e me faz lembrar de todos os anos que eu estive aqui e senti a mesma coisa. É uma angústia que não é violenta, mas me deixa sempre inquieta. Desde que eu era pequena, sentada embaixo de uma amendoeira qualquer deixo meus pensamentos se arrastarem junto com as ondas, e é como se tudo o que eu vivi e ainda viverei estivesse ali, mergulhados ou então boiando naquele azul-sem-fim. 

 Quando desvio minha atenção tudo some, mas a angústia que vem com o entardecer me lembra do que vi escrito nas entrelinhas das ondas. Antes de ir embora cato algumas conchas, só pra garantir a lembrança de ser pessoa mesmo longe daqui.

altomar_II


 O mar estava ali, por apenas alguns passos, mas seguimos no caminho oposto, queimando junto com o cigarro que tínhamos na mão. o sol escaldava mas minha cabeça estava bem mais quente, cozinhando todos os meus pensamentos, quem borbulharam até saírem pelos meus olhos. E as lágrimas são tão quentes que queimam meus olhos parecendo derreter minhas córneas.

  Andei e passei por uma amendoeira carregada, porém completamente seca e depois por uma casa abandonada, mas com ipê florido e amarelo. Parei em frente a ele e peguei um broto ainda verde. Ainda há vida para nascer.